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domingo, 14 de setembro de 2014

José Armando Valente fala sobre as tecnologias digitais de informação e comunicação e suas diferentes abordagens

José Armando Valente é palestrante confirmado para o 3º People.Net in Education: Congresso de Redes Sociais Aplicadas à Educação, o tema de sua palestra será  O Educador Netweaver: coordenando contextos de aprendizagemque será realizada dia 05 de Dezembro, às 08h, no auditório da Faculdade Rio Branco em São Paulo/SP. Ele estará debatendo o tema ao lado de Alexandre Campos Silva, Jose Manuel Moran, além de outras autoridades em Redes Sociais Aplicadas à Educação. Confira o resumo artigo de autoria do palestrante sobre o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação e suas diferentes abordagens.
O Educador Netweaver: coordenando contextos de aprendizagem
As tecnologias móveis sem fio têm criado condições para que a aprendizagem não necessariamente esteja restrita a um local físico no qual se encontra a tecnologia, como acontecia no caso do uso do computador desktop. As possibilidades de aprender em qualquer lugar e a qualquer momento têm despertado a atenção de educadores ou pessoas envolvidas na criação de contextos de aprendizagem, como os contextos formais, não-formais e informais, que possam auxiliar processos de construção de conhecimento. Para que estes contextos sejam efetivos educacionalmente, eles devem ser coordenados, função que certamente o educador netweaver deverá ser capaz de realizar.

José Armando Valente
Livre Docente/Unicamp; Professor do Dep. de Multimeios, Mídia e Comunicação, Instituto de Artes e Pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) da Unicamp; Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da PUC-SP; Coordenador do Grupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE) da Unicamp.

A Educação a Distância (EaD) passou por profundas transformações nos últimos 20 anos. Até o final dos anos 80 (século passado), a EaD estava fundamentalmente baseada no material impresso, que era devidamente preparado, enviado ao aprendiz e utilizado de acordo com a sua disponibilidade de tempo e local de estudo. Essas condições caracterizavam o ensino feito a distância, demarcando claramente uma separação espacial e temporal entre o professor e os aprendizes.
O e-learning possibilitou a quebra das barreiras temporais e espaciais. As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) criaram meios para facilitar a interação entre professor e aprendizes, alterando diversos aspectos da EaD tradicional, como as concepções teóricas, as abordagens pedagógicas e os processos de avaliação da aprendizagem dos alunos. Por exemplo, as atividades síncronas, como os bate-papos ou chats contribuem para eliminar o distanciamento temporal. A separação espacial foi minimizada com a possibilidade da alta interação que pode existir entre professor e aluno.
Porém, nem todas as atividades de e-learning são realizadas a distância. Muito pelo contrário, a separação geográfica e temporal não são características fundamentais do e-learning. Essa abordagem educacional tem sido usada como complemento de atividades educacionais presenciais, para incrementar atividades de pesquisa, auxiliar a mobilidade e colaboração entre professores e alunos e para facilitar o acesso à informação ou, até mesmo, o uso das TDIC no desenvolvimento de projetos ou atividades curriculares cumpridas presencialmente.
Para caracterizar a presença das TDIC nas atividades de EaD, foi criado o conceito de EaD online.
No entanto, existem diferentes abordagens de EaD online. Com base nos níveis de interação que efetivamente existe entre docente e aluno, é possível caracterizar diferentes abordagens de EaD online, que variam em um contínuo. Em um extremo, está a broadcast. No outro extremo, está o suporte ao processo de construção de conhecimento por intermédio das facilidades de comunicação, denominado de “estar junto virtual”. Uma abordagem intermediária é a virtualização da escola tradicional.
Na abordagem broadcast, o ponto principal é que não existe nenhuma interação entre professor e aluno e nem mesmo entre estudantes. O docente não interage com o aluno, não recebe nenhum retorno deste e, portanto, não tem condições de saber como a informação que o estudante recebe está sendo compreendida ou assimilada por ele. O professor não tem meios para verificar o que o aprendiz faz, nem como auxiliá-lo na sua aprendizagem. O ensino é baseado no material instrucional, que é armazenado em portais ou plataformas de EaD, é acessado pelos aprendizes, e estes podem usá-lo da maneira que lhes convém.
No outro extremo, com relação ao grau de interação entre professor e aprendizes, e entre aprendizes, encontra-se a abordagem do “estar junto virtual”. As TDIC criaram condições para que essas interações sejam intensas, permitindo o acompanhamento do aluno e a criação de condições para o professor “estar junto”, ao lado do aluno, vivenciando práticas e auxiliando-o a resolver seus problemas, porém, virtualmente.
As interações que acontecem via TDIC têm como objetivo a realização de ciclos de ações, criando uma espiral crescente de oportunidades de construção de conhecimento (VALENTE, 2002). Essas interações permitem o acompanhamento e o assessoramento constante do aprendiz, no sentido de entender o seu interesse e nível de conhecimento sobre determinado assunto e, a partir disso, ser capaz de propor desafios e auxiliá-lo a atribuir significado ao que está realizando.
Nessa situação, o aprendiz consegue processar as informações, aplicando-as, transformando-as, buscando novas informações e, assim, construindo novos conhecimentos. Para a implantação dessa abordagem de EaD online, é necessário que o aprendiz esteja engajado na resolução de um problema ou projeto. Assim, diante de alguma dificuldade ou dúvida, ele poderá resolvê-la com o suporte do professor, interagindo via TDIC.
Desse modo, o aprendiz age, produzindo resultados que podem servir como objeto de reflexões. Essas reflexões podem gerar indagações e problemas e, assim, ele pode interagir com o professor, recebendo suporte na forma de textos, imagens ou exemplos de atividades que poderão auxiliá-lo a resolver seus problemas. Com base nessas sugestões, o aprendiz tenta colocá-las em prática, podendo surgir novas dúvidas, que poderão ser resolvidas com o suporte do professor.
Com isso, estabelece-se um ciclo de ações que mantém o aluno no processo de realização de atividades inovadoras, gerando conhecimento sobre como desenvolver essas ações, porém, com o suporte do professor. Também pode haver interação entre os aprendizes, um auxiliando o outro com o conhecimento que possui. Neste caso, estabelece-se uma verdadeira rede de aprendizes, inclusive com a participação do professor, que pode estar aprendendo ao mesmo tempo em que tem o papel de manter o ciclo de ações funcionando com cada um dos aprendizes.
A virtualização da sala de aula ocupa uma posição intermediária entre a abordagem broadcast e o “estar junto virtual”, pois prevê algum tipo de relação entre professor e aprendiz. É uma tentativa de reproduzir, usando as TDIC, cursos ou ações educacionais muito semelhantes ao ensino tradicional. Na virtualização da escola tradicional, o professor passa a informação ao estudante, que a recebe e pode simplesmente armazená-la ou processá-la, convertendo-a em conhecimento. O processo educacional, nessa abordagem, não é diferente do que acontece na sala de aula tradicional.
Enfim, diante dessas diferentes abordagens, é necessária a compreensão das especificidades de cada uma delas, para saber escolher qual é mais adequada, considerando os objetivos educacionais a serem atingidos. No entanto, o que tem prevalecido é a EaD online, ainda muito vinculada ao atendimento de massa, de baixo custo, basicamente, a virtualização do ensino tradicional!

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