A pesquisa decorre de resultados
de estudos anteriores desenvolvidos com 320 estudantes, nativos digitais
(nascidos nos anos 90), do ensino médio das redes pública e privada, em
Pelotas/RS, Brasil. Analisou-se como estes jovens utilizam as Tecnologias de
Comunicação e Informação. Com isto, percebeu-se que as conexões possibilitadas
pela Internet, através das tecnologias suportadas por ela (as mídias sociais e
os jogos em rede), oportunizam o desenvolvimento de habilidades cognitivas
diferenciadas das avaliadas nas instituições escolares. Outro achado foi que os
Sites de Redes Sociais (SRS) desencadeiam novas constituições subjetivas, onde
as experiências cotidianas apontam modos de produção deconhecimentos,
aprendizagens e sociabilidades que se potencializam através da interação em
rede. Hoje, muitos do estudantes investigados frequentam diversos cursos de
graduação nas Instituições de Ensino Superior(IES) do Rio Grande do Sul. Sendo
assim, busca-se investigar como os estudantes que fizeram parte da primeira
pesquisa estão utilizando as mídias sociais contemporâneas, mais
especificamente os SRS, e que práticas, realizadas pelos estudantes, propiciam produção
de conhecimentos, aprendizagens e de subjetividades. Estes aspectos serão
investigados, a partir do acompanhamento e análise das interações destes
estudantes no site de rede social Facebook. A metodologia definida como método
de coleta e análise na referente pesquisa é a cartografia e a netnografia .
Desta forma, procura-se dar maior visibilidade para o tema, incentivando e
contribuindo para a reflexão crítica sobre novas práticas e metodologias que contemplem
o uso das mídias sociais como ferramentas pedagógicas, aumentado as
possibilidades de ações dos professores junto aos estudantes.
Palavras-chave:
mídias sociais, aprendizagens, subjetividades.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Este projeto de pesquisa resulta
das investigações iniciadas em 20077, com 320 estudantes do ensino médio
(nascidos nos anos 90) que, naquela ocasião, já apontavam uma expressiva
utilização das mídias sociais8 disponíveis na época.
Apresentaremos brevemente a
síntese do estudo desenvolvido: o levantamento de dados aconteceu por meio do preenchimento
de questionário semi-estruturado, na escola privada os estudantes preencheram o
inventário de investigação no laboratório de informática, os computadores
estavam conectados em rede e automaticamente os dados eram digitalizados; na
escola pública havia laboratório de informática, porém não havia conexão em
rede, em virtude disso os estudantes preencheram o mesmo em folha impressa e os
dados foram digitados, as análises dos dados de ambas as escolas foram feitas
tendo como referência a etnografia virtual e a cartografia. As questões
estruturadas receberam tratamento estatísco. Entramos em contato com os
professores, destes estudantes, e solicitamos que eles também respondessem o questionário;
concordaram e optaram por utilizar a versão impressa, embora, dos 82
professores, 26 questionários foram respondidos e entregues e, todos da Rede de
Ensino Privada.
Destacamos a seguir alguns dos
achados: os estudantes acessavam diariamente a Internet; acessavam a Wikipedia para
realizar trabalhos escolares e o MSN (chat on-line) para comunicarem-se entre
si. Todos os estudantes tinham perfil no Sites de Rede Social Orkut, as turmas
de estudantes possuíam comunidades no Orkut para comunicarem-se entre si, fora
do espaço da sala de aula. Os 320 estudantes, além dos software e serviços
citados anteriormente, ainda utilizavam outras mídias sociais como: Fotologs,
Blogs, jogos eletrônicos (on-line). Também identificou-se o uso do telefone
celular e o serviço de e-mail. O primeiro, utilizado para o envio de mensagens
de texto (SMS); jogos e escutar músicas. Já o E-mail, no contexto escolar, se
restringia ao envio de trabalhos e atividades aos professores. Vale comentar,
também, que o tempo diário de permanência on-line era, em média, de seis horas.
Destaca-se, ainda, que no período da coleta de dados (2008) foi constatado que
não ocorria o acesso à Internet via telefone celular por parte destes
estudantes. Em relação aos professores, dos 26 que devolveram os questionários
respondidos: 5 utilizavam o MSN, 6 possuíam perfil no ORKUT; os 26 professores
utlizavam o e-mail diariamente como forma de comunicação. Houve a devolução dos
dados pela equipe de pesquisa para os diretores e professores Os dados supracitados
ratificam que nos últimos anos, as mídias sociais fazem parte da vida cotidiana
destes estudantes, merecendo destaque a expressiva utilização dos SRS como uma
forma sociabilidade.
Constatou-se que tanto para
estudantes como para os professores a Internet é uma ferramenta tecnológica
pedagógica que serve para pesquisar conteúdos à realização das tarefas
escolares e para enviar e receber e-mails de professores. Percebese, não apenas
como pesquisador, mas na prática diária como usuário destas tecnologias, que
houve um considerável avanço e uma ampliação de diversas possibilidades de
comunicação, interação, consumo e produção de conteúdo (de forma colaborativa)
através destas mídias. Destacam-se entre as mídias sociais os Sites de Redes
Sociais, que desencadeiam diferentes constituições subjetivas, onde as
experiências cotidianas apontam diversos modos de produção de conhecimentos,aprendizagens
e sociabilidades que se atualizam através da interação em rede. Portanto, é
neste sentido que voltamos a acompanhar estes mesmos jovens estudados em 2007,
a fim de identificarmos e analisarmos como eles estão se apropriando destas
mídias e se as práticas realizadas promovem aprendizagens e construção de
conhecimento.
PROBLEMA
Quais subjetividades, que
resultam de/em compartilhamentos, interações e aprendizagens, estão sendo
constituídas pelos jovens estudantes a partir da utilização das mídias sociais
contemporâneas, mais específicamente no Facebook?
QUALIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Esta pesquisa foca temas ligados
às transformações contemporâneas em relação aos novos modos de aprendizagens,
produção de conhecimentos e sociabilidades produzidos no campo virtual, onde as
Midias Socais, especialmente os SRS, estão sendo propulsores de novas formas de
aprendizagens. Da profusão interativa entre as pessoas, no campo virtual,
emergem características de aprendizagens e de sociabilidades não existentes
antes da Internet. Consta-se hoje que as tecnologias disponíveis, por sua
rápida evolução, e por serem mais acessíveis e atraentes, potencializam os
níveis de conexões, contatos e interações on line. A quantidade de informações
se avoluma em tempos cada vez menores. Tais mudanças alteram os modos de
existência e outras constituições subjetivas estão sendo engendradas no
contemporâneo (SPEROTTO, 2002, 2006, 2011). Bem como a produção do conhecimento
, as interações on line e as aprendizagens, constituem uma subjetividade que é
individual e coletiva (GUATTARI,1992).
Ousamos afirmar que as pessoas
estão sendo constituídas em meio a esses dispositivos tecnológicos, que se
apresentam diferentes dos que existiam antes do advento da proliferação das
Mídias Digitais, o que implica no surgimento de outras 7 Esta pesquisa teve
como objetivo principal conhecer como os estudantes utilizavam as Mídias
Digitais buscando perceber como as Tecnologias de Comunicação e Informação
influenciavam o aprendizado escolar. Também foram investigados os professores,
porém eles não constituíram.
Mídias Sociais são ferramentas
on-line utilizadas para a divulgação de conteúdo ao mesmo tempo em que permitem
alguma interação entre os usuários. As mídias sociais possuem categorias como,
por exemplo, as Redes Sociais. Neste trabalho consideramos as mídias sociais,
também, como técnologias (dispositivos) produtoras de subjetividades, segundo
os pré-supostos teóricos de Michael Focault.
Sites de Redes
Sociais,(RECUERO,2009)
Trata-se de aprendizagens interativas.
A aprendizagem interativa e coletiva é uma realidade contemporânea, onde a
Internet produz, enfim novas subjetividades e aprendizagens (GUATTARI,1999). A Internet
é um instrumento de desenvolvimento social que possibilita a partilha da
memória, da percepção, da imaginação, das sensações, resultando numa
aprendizagem coletiva, advindas de explorações entre grupos humanos, destaca
Levy (1997).
A partir do final do século XX,
nas diversas áreas das humanidades e das ciências,alardeia-se “um sentimento crescente
de desconforto e pressentimento a respeito da sorte do sujeito” (SANTAELLA,
2004, p.45). Cresce a preocupação em torno de uma “crise do eu” ou“crise da
subjetividade”, e passa-se então a criticar e rejeitar a definição de um
sujeito universal, estável, unificado, racional, autônomo e individualizado. A
imagem da subjetividade humana herdada do cogito cartesiano dominou o
pensamento ocidental por alguns séculos. De acordo com este conceito, a
existência do sujeito é idêntica ao seu pensamento. Trata-se da ideia de um
sujeito racional, reflexivo, senhor no comando do pensamento e da ação, cujos
pressupostos atravessam as filosofias kantiana, hegeliana, fenomenológica e até
existencialista. Apesar da força com que perdurou no tempo, esta ideia de
sujeito começou a perder seu poder de influência para ser, então, sumariamente questionada
há duas ou três décadas, principalmente na obra de teóricos e filósofos
pós-estruturalistas como Foucault, Deleuze, Guattari e Derrida. Passa a
circular, no mudo acadêmico, a ideia da subjetividade como algo processual,
parcial, precário e pré-pessoal. Não existe uma subjetividade que funcione como
“recipiente” onde seriam depositadas coisas essencialmente exteriores a serem
“interiorizadas”. Ao entender a subjetividade como um fluxo contínuo de modos
de existir fabricado no entrecruzamento de instâncias sociais, técnicas,
institucionais e individuais (GUATTARI, 1999), radicaliza-se o entendimento das
possibilidades de constituição de modos de ser. Assim, é possível considerar
que todos os sujeitos e coletivos humanos, todas as tecnologias, instituições e
produtos culturais produzem subjetividades, que nunca são “dadas” ou
“acabadas”, mas estão sempre em processos de constituições. Dentro de uma série
de dispositivos que produzem novos modos de ser na contemporaneidade,
destaca-se aqui a importância que a Internet vem tomando neste contexto. Além
dos dispositivos “clássicos” de produção de subjetividade – escola,
trabalho,empresa, família, etc – nos confrontamos hoje com um novo espaço
antropológico (LÉVY, 1997), que, a todo momento, fabrica novos modos de ser: a Internet.
Estes novos modos de se pensar espaços sociais acabam por se constituir de
forma rizomática, transitória, desprendida do tempo e do espaço, baseada muito
mais na cooperação e nas trocas do que na permanência dos laços (LÉVY, 1997).
Através das Redes Sociais na Internet, torna-se possível encontrar zonas de
proximidade onde pareceria impossível: compartilhamos ideias, conhecimentos,
problemas, dificuldades, desejos, sentimentos - o que dificilmente seria possível
fazer entre os que estão fisicamente próximos de nós. Por site de rede social,
entende-se aqui uma forma de comunicação mediada pelo computador que permite a
“visibilidade e a articulação das Redes Sociais, a manutenção dos laços sociais
estabelecidos no espaço offline” (RECUERO, 2009). Neste entendimento, podem
constituir-se como Sites de Redes Sociais algumas ferramentas que não
necessariamente foram criadas e planejadas com este intuito, mas que foram apropriadas
pelos usuários de tal forma. Assim, podem ser entendidos como Sites de Redes
Sociais: os flogs# (como porexemplo, o Flickr#), os blogs, as ferramentas de
micro-blogging# (como o Twitter#), além de sistemas como Orkut# e Facebook#,
mais comumente entendidos como “Redes Sociais”. Deste novo sistema de
referência, destacam-se alguns elementos que servem como alusão de uma
cartografia a ser desenhada, na intenção de vislumbrar como se dá a produção desta
“subjetividade em rede”. Sendo assim, ferramentas e pessoas passam a constituir
uma rede híbrida: um espaço onde diferentes tipos de conhecimentos, crenças,
desejos e atitudes podem associar-se de maneira livre. Entende-se, então, que o
espaço viabilizado por estas redes pode operar não só como extensão da sala de
aula, mas possibilita outras aprendizagens e compartilhamentos, deixando
aparecerem outros modos de ser estudante (MARGARITES, 2011). Percebe-se que a crescente
importância do ciberespaço na vida contemporânea tem transformado a maneira de
relacionar-se com o tempo e com o espaço.Em relação ao espaço, ao mesmo que se
dá uma dissolução das distâncias geográficas – no sentido de que é possível
entrarem contato com realidades absolutamente diferentes daquelas a qual se
estariam expostos sem a Internet –, também há uma necessidade de “localizar”
sua presença na rede. .(MARGARITTES & SPEROTTO, 2011b). Ousamos dizer que
os tempos e os espaços estendidos abrem campos de experimentação para outras
aprendizagens e sociabilidades mediadas por ferramentas tecnológicas, uma vez
que a educação e a formação de sujeitos não ocorre somente nos espaços formais/tradicionais
como a escola e a família, mas também através da mídias sociais que nos ensinam
outros modos de ser e estar no mundo, cujos espaços de conhecimentos, crenças,
desejos e atitudes podem associar-se de maneira ou de outra.
Em nossas listas de reprodução do
YouTube, encontram-se lado a lado obras clássicas, clipes musicais, palestras e
vídeos que gravamos com imagens de nossas famílias e amigos.(MARGARITTES &
SPEROTTO, 2011b). Os “compartilhamentos” supracitados mostram algumas das
diferentes possibilidades, formas, hábitos, velocidades e conexões que as
Mídias Sociais oportunizam. Considerando as questões observadas, pensamos que
as interações entre estudantes nos Sites de Redes Sociais na Internet favorecem
o surgimento de outros modos de “formar-se” enquanto sujeito, professor, estudante,
profissional. As redes abrem espaço para novas formas de colaboração e
compartilhamento, favorecendo o aparecimento de diferentes referências e modos
de vida; ao mesmo tempo, o “estar em rede” imprime outro ritmo às vidas dos que
se conectam, dissolvendo as relações geográficas e temporais que estabelecemos
até então. Entre tantas modificações, nos cabe ainda indagar: em meio à
produção massiva em nível mundial de certos modos de ser, é possível pensar em
produzir subjetividades singulares, que escapem às modelizações dominantes
neste mundo hiperconectado?
Desse modo, a proposta de
pesquisa objetiva investigar como os jovens interagem, aprendem e compartilham conhecimentos
transitando entre as Mídias Sociais. Trata-se de um modo de educar-(se) que
amplia os laços de sociabilidade em um mundo que se potencializa entre
interações e partilhas coletivas entre as pessoas que interagem nos SRS.
Talvez, as Mídias Sociais,em especial o SRS Facebook, ao mesmo tempo em que nos
impõem determinados modos de ser, também nos ofereçem brechas para fabricarmos
outros modos de investigar,: afinal de contas, é sempre possível atrever-se a
singularizar.
OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
Temos como objetivo geral
identificar as potencialidades dos Sites de Redes Sociais (SRS), principalmente
do Facebook, como uma ferramenta que oportuniza produções de conhecimentos,
assim como, novas formas de aprendizagens, subjetividades e sociabilidades,
problematizando a sua utilização no contexto educacional como ferramenta
pedagógica, a fim de apontar possibilidades de ações e de intervenções no campo
do ensino universitário que contemplem o uso destas tecnologias. São objetivos
específicos: (1) Mapear as possibilidades que os Sites de Redes Sociais, mais
especificamente o Facebook, promovem para a construção e compartilhamento de
conhecimentos; (2) conhecer outras mídias sociais e aplicativos que apresentem
potencial pedagógico e que estejam sendo utilizados pelos estudantes de maneira
integrada ao Facebook; (3) analisar o Facebook como dispositivo de
aprendizagem; (4) verificar e registrar o conceito que os estudantes possuem
sobre o Facebook e demais mídias sociais como ambientes/ferramentas de
aprendizagem; (5) Identificar como as mídias sociais estão sendo utilizadas nos
diferentes cursos de Instituições de Ensino Superior onde os estudantes estão matriculados.
METODOLOGIA
Este estudo opera no campo da
cartografia, servindo-se das contribuições metodológicas da etnografia virtual para
a coleta de dados. A cartografia é um modo de olhar que considera os coletivos
humanos, as tecnologias e os discursos como produtores de subjetividades que
nunca estão “dadas” ou “acabadas”, mas sempre em processo de constituição.
Assim, a cartografia permite aproximações diferenciadas ao campo de pesquisa
por estar aberta aos movimentos, aos desvios, à diversidade. O método
cartográfico trata de processos construídos durante a sua efetuação, ou seja:
não se busca estabelecer um caminho linear para atingir um fim, mas construir
um caminho de acordo com as demandas e necessidades que surgem no decurso dos
acontecimentos e dos efeitos das proposições nos corpos dos sujeitos. Cabe ao
cartógrafo captar as forças que se exercem neste campo e dar-lhes visibilidade.
Para Rolnik (2007), o cartógrafo é alguém com tipo de sensibilidade que permita
perceber as co-existências entre as macro e micropolíticas, complementares e
indissociáveis na produção da realidade social.
A cartografia portanto, oferece
subsídios para o pesquisador abordar os “achados” permitindo aproximações de múltiplas
produções discursivas. De acordo com Kastrup (2007) o que importa é especular
materiais de qualquer procedência e utilizar estratégias que possam servir para
cunhar matéria de expressão e criação de sentidos. Deleuze e Guattari (1995)
sublinham que a cartografia é uma performance que comporta elasticidade e
ritmos num processo de produção do conhecimento, ou seja, nem objetivismo nem
subjetivismo, mas um método de autoprodução. Pode-se dizer que a busca do
cartógrafo pesquisador em campo está em colocar-se à espreita por meio do
olhar, do fazer, do narrar, na busca de sentidos e expressão de singularidades
a cada momento, a cada manifestação, a cada nova experimentação. O cartógrafo
está sempre em busca de quaisquer elementos que possam fornecer pistas, rastros
que possam vir a compor suas cartografias, e que respondam à pergunta: que
subjetividades estão sendo constituídas?
Os processos que constituem
subjetividades, segundo Guattari (1999), “não são resultado da somatória de subjetividades
individuais, mas sim do confronto com as maneiras com que, hoje, se fabrica a
subjetividade em escala planetária” (p. 37). Desta forma, a produção de
subjetividade não pode ser investigada apenas através do contato do pesquisador
com cada um dos sujeitos, mas também através da observação nos espaços de
relação “entre” estes sujeitos - das conexões entre os sujeitos. Neste aspecto,
a cartografia, quando trata das redes sociais na internet, tem a vantagem de trabalhar
com dados que permanecem “visíveis”, registrados na rede. ((MARGARITES, 2011).
O método cartográfico “visa acompanhar um processo e não representar um objeto”
(Kastrup, 2007, p.2). A cartografia, então, é uma espécie de tentativa de se
criar um mapa em movimento dos processos de constituição de subjetividade. O
cartógrafo-pesquisador é atento às surpresas e aos descaminhos, pois é do
inesperado que podem emergir as questões instigantes, as singularidades mais
desafiadoras. De um lado temos a cartografia como forma de ‘olhar os dados’ e
de outro temos a etnografia virtual como método de captura e de coleta destes
dados, cuja ênfase está numa proposta de investigação na Internet que enriquece
as vertentes da perspectiva de inovação e melhoramento social dentro do
espectro do enfoque qualitativo de metodologia e prática social (FRAGOSO;
RECUERO; AMARAL, 2011;KOZINETS,2002, 2010,2008).
O termo etnografia virtual ou
“netnografia” foi cunhado a partir da década de oitenta por Robert V. Kozinets
(1998), especialista em marketing com interesse especial em cibermarketing.
Segundo o autor, (KOZINETS, 1998), a netnografia, ou etnografia virtual,
compreende tanto o trabalho de campo como a descrição textual e são metodologicamente
conduzidas pelas tradições e técnicas da antropologia cultural. Resulta do
trabalho de campo que estuda as culturas e comunidades on-line emergentes,
mediadas por computador, ou comunicações baseadas na Internet, requerem métodos
de “pesquisa on-line” adaptados e pertinentes a esta realidade. Independente do
termo utilizado, um fato interessante a se considerar é que o incremento de
pesquisas de cunho antropológico no ciberespaço é um sinal de que a Internet
não é mais apenas considerada um artefato cultural passando a ser considerada
também como um contexto cultural (ou espaço por onde se configuram territórios
e subjetividades).. Na visão de Kozinets (1997), a netnografia pode ser
utilizada de três maneiras: a) como metodologia para estudar comunidades
virtuais puras; b) como metodologia para estudar comunidades virtuais
derivadas; c) como ferramenta exploratória para estudar diversos assuntos. Para
este autor, as comunidades virtuais puras são aquelas cujas únicas interações
se dão nas comunicações mediadas pelo computador. Assim, no âmbito desta pesquisa,
a coleta e as análises dos dados buscam ancoragem nas proposições metodológicas
supacitadas.
ETAPAS DA PESQUISA
Esta pesquisa será desenvolvida
articulando dinâmicamente as 4 etapas, que se subdividem em outros micro processos:
A primeira etapa é composta pelos
seguintes processos: (1) Formação do grupo de estudantes (Estudantes de iniciação
científica, estudantes voluntários da graduação e mestrandos da UFPEL) e
pesquisadores envolvidos, objetivando estabelecer a distribuição das ações para
cada membro do grupo. Utilizando um grupo privado dentro do Facebook como ferramenta
de comunicação, compartilhamento de informação e para a discussão de demais
temas referentes à pesquisa. (2) Levantamento bibliográfico, fichamentos e a
sistematização das informações sobre os temas e metodologias que compõem corpo
teórico da pesquisa. (3) A partir das lista de nomes que consta no banco de
dados da pesquisa anterior (2007), realizaremos o rastreamento dos 320 estudantes
buscando identificar o perfil de cada um no Facebook. E assim, solicitar a participação
nesta pesquisa. Nesta fase é necessário esclarecer aos estudantes que não
haverá divulgação da identificados dos dados coletados quando analisados e
publicados; sendo assim, solicitaremos o preenchimento de um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (este termo será preenchido on-line), informando aos
participantes os objetivos e procedimentos adotados ao longo do estudo. (4)
Criação de uma página do Facebook (fan page) que servirá como canal de comunicação
e interação entre o grupo de pesquisa e os sujeitos estudados. As Análises dos
resultados da investigação serão sistemáticamente apresentadas aos estudantes
envolvidos, através desta página onde disponibilizaremos os resultados obtidos
e abriremos espaços para comentários e demais discussões. Desta forma, esta
página também atuará como um veículo de divulgação de informações a cerca da
pesquisa, ampliando a sua visibilidade e promovendo o reconhecimento, por parte
dos estudantes, da relevância de suas contribuições para o desenvolvimento do
estudo. Pretende-se com isso despertar o interesse dos estudantes e aguçar-lhes
a curiosidade para perceberem que a produção do conhecimento pode acontecer por
trocas partilhadas e potencializadas em rede. (5) Reuniões semanais com
estudantes e professores envolvidos na pesquisa.
Na segunda etapa realizaremos:
(1) Planejamento e montagem de um questionário com a ferramenta de formulários do
Google Docs, seguido da sua publicação (disponibilizá-lo on-line) para, então,
passarmos a convidar os alunos, através do Facebook, para o preenchimento. Este
instrumento conterá questões estruturadas e semi-estruturadas, de caráter
qualiquantitativo. (2) Produção de análises parciais dos dados recolhidos
através dos questionários.
A terceira etapa é composta por:
(1) Analisar os dados e apresentar, a partir de infográficos, os resultados aos
sujeitos envolvidos, através da publicação destes dados na página do Facebook,
onde abriremos espaços para comentários e demais discussões. Desta forma, esta
página também atuará como um veículo de divulgação de informações a cerca da pesquisa,
ampliando a sua visibilidade e promovendo o reconhecimento, por parte dos
estudantes, da relevância de suas contribuições para o desenvolvimento do
estudo. Pretende-se com isso despertar o interesse dos estudantes e aguçar-lhes
a curiosidade para perceberem que a produção do conhecimento pode acontecer por
trocas partilhadas e potencializadas em rede. (2) Examinar as interações destes
estudantes a partir do monitoramento dos seus perfis no Facebook, a fim de identificar
como os espaços viabilizados pelas Redes Sociais da Internet operam como
extensão da sala de aula e de que forma possibilitam a invenção de outras
aprendizagens, modos de interação e partilha de conhecimentos. (3) Descrição da
cartografia da subjetividade, os modos de aprendizagens, produções de
conhecimentos e sociabilidades visibilizadas nas análises dos dados coletados e
na profusão interativa entre as pessoas, no campo virtual. (4) Análises
parciais dos dados e encaminhamento de artigos para eventos científicos da
área, tendo como referencial teórico os subsídios teóricometodológicos da
pesquisa. (5) Comunicação de resultados parciais por meio de participação em
eventos da área e encaminhamento de artigos para periódicos especializados. (6)
Reuniões semanais com estudantes e professores envolvidos na pesquisa.
A quarta etapa baseia-se nas
análises conclusivas, compostas por: (1) Produção das análises conclusivas a
partir dos dados coletados no questinário on-line e nas interações
estabelecidas via página do Facebook. (2) Publicação de artigos em periódicos
especializados, apresentação de trabalhos em congressos nacionais e
internacionais, e ofertar oficinas e palestras para escolas e IES das públicas
e privadas de ensino. Divulgação dos resultados finais da pesquisa, através da
página do Facebook. (3) Reuniões semanais com estudantes e professores
envolvidos na pesquisa.
METAS E RESULTADOS ESPERADOS
A pesquisapossui as seguintes
metas: (1) Oportunizar debates, discussões e reflexões sobre utilização das
mídias sociais por parte dos estudantes, professores,Instituições de Ensino
Superior, escolas públicas e privadas; (2) contribuir com a produção científica
na área das Tecnologias da Educação e da Comunicação, através da publicação de
artigos científicos que enfatizem o tema central da investigação; (3)
apresentar trabalhos em eventos científicos internacionais, nacionais, regionais
e locais, possibilitando a divulgação e discussão sobre os achados da pesquisa;
(4) organizar um evento científico regional sobre o tema, possibilitando o
compartilhamento de pesquisas que estão sendo desenvolvidas; (5) congregar subsídios
à formação de pesquisadores na área da educação (mestrandos, doutorandos e de
iniciação científica). Como resultados esperados pensamos que os achados da
pesquisa contribuirão para a reflexão crítica sobre novas práticas e metodologias
que contemplem o uso das mídias sociais como ferramentas pedagógicas, aumentado
as possibilidades de ações dos professores junto aos estudantes.
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